Em termos substantivos, a pesquisa aplica ao contexto
brasileiro recente, análises inspiradas no trabalho seminal de Max
Weber:"A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", que aborda
as correlações entre crenças e mobilidade social através de variáveis como
escolhas ocupacionais (e.g. empreendedorismo e divisão do trabalho),
financeiras (e.g. acumulação de capital e crédito) e educacionais (e.g. busca
de níveis ensino mais altos). Estes pontos que ocupam lugar de destaque na
argumentação desenvolvida pelo sociólogo alemão começam a ser estudados
pela equipe do CPS no contexto brasileiro. Uma diferença entre a referência
européia da ligação entre reforma protestante e desenvolvimento capitalista e
aquelas estudadas no contexto brasileiro é o aumento relativo do número de
evangélicos pentecostais em época de estagnação e instabilidade econômicas.
Um paralelo é que, enquanto em Weber o protestantismo tradicional liberou o
cidadão comum cristão da culpa católica de acumulação privada de capital,
aqui os movimentos religiosos emergentes liberaram a acumulação privada de
capital através da igreja. A maior ligação entre o espírito empresarial e a
organização religiosa seria uma marca dos novos ramos religiosos hoje no
Brasil - e na América Latina.
O contexto de estagnação econômica das chamadas décadas
perdidas de 80 e 90 do século passado, especialmente a de 90 teria propiciado,
tanto por elementos de demanda como de oferta, a busca de novas modalidades de
inserção produtiva para lidar com as dificuldades materiais percebidas. A
abordagem consiste em relacionar a demanda por novas opções religiosas a
choques econômicos e sociais adversos, como as chamadas crises metropolitanas e
de desemprego, violência, favelização, informalização, entre outras L.
Neste caso identifica a emergência de grupos pentecostais e dos sem religião
entre os grupos perdedores da crise econômica e, em particular, no que tange ao
aspecto metropolitano da mesma. Por exemplo, a pesquisa demonstra que quando
comparamos pessoas em condições similares (geografia, sexo, idade etc) àquelas
sujeitas a maior percepção de violência entre outros indicadores de caos
urbano tem maior chance de gravitar para fora da órbita católica L.
Indicadores de deseconomias urbanas ligadas à percepção de baixa qualidade de
vida através de elementos diversos como a presença de pouco espaço nas casas L,
problemas ambientais L,
barulho e violência na vizinhança L,
renda L
e alimentos insuficientes L
ou baixa qualidade de acesso a serviços públicos L
estão mais associados aos sem religião e aos pentecostais, que se encontram
super-representados nestas estatísticas, com uma correspondente sub-representação
dos católicos e de protestantes tradicionais. Os dados demonstram que a nova
pobreza (e.g. periferia das grandes cidades mais desassistidas) estaria migrando
para fora do status quo católico para dois extremos opostos: as novas igrejas
pentecostais e para os sem religião enquanto a velha pobreza brasileira (e.g.
nordeste rural assistido por programas sociais) continua religiosa e católica. L
L.
Outras variantes das afinidades eletivas entre religião e
condições materiais seriam àquelas associadas à chamada revolução
feminina, que desempenha papel central na mudança de religiosidade recém-observada.
Já que as mulheres continuam mais religiosas que os homens, 3,98% delas não
possuem crença, contra 6,32% deles. Entre quem professa algum credo, isto é
retirando os/as sem religião da amostra, 76,16% das mulheres são católicas
contra 79,49% dos homens. Em 1940 a ordenação destas taxas entre sexos
invertida correspondendo a 96% e 95%, respectivamente. Num grupo de cinqüenta
religiões consideradas a predominância feminina se dá em 43 delas, sendo as
exceções o islamismo, o judaísmo, o hinduismo e os três principais segmentos
da religião católica L.
Uma interpretação para as mudanças religiosas das mulheres testadas é que as
alterações no estilo de vida feminino ocorridas nos últimos 30 anos no Brasil
não encontraram eco na doutrina católica, menos afeita a mudanças. Questões
centrais para as mulheres como contracepção, divórcio e como aborto são
ainda tabus para a Igreja Católica, que tampouco incentiva a independência
profissional das mulheres L.
A pesquisa aprofunda outros aspectos da relação entre
religião e economia identificando também aspectos de oferta de religião
associados às transformações recentes como a substituição do Estado por
algumas denominações religiosas na sua função clássica de prover serviços
sociais e de arrecadarem impostos. A pesquisa quantifica a partir de pesquisas
de orçamentos familiares a cobrança de dízimo e doações para as igrejas em
geral em 5.1 bilhões ano abrindo por grupo sócio-demográfico L
e por atributos individuais L,
identificando forte regressividade e maior dificuldade dos dizimistas de pagarem
impostos e contas privadas L.
Além disso, examina a microeconomia da oferta de pessoas exercendo ofícios de
natureza religiosa dada a estrutura de incentivos de cada tipo de instituição
religiosa L.
Hoje haveria 17,9 vezes mais pastores evangélicos por fiel do que de padres por
católicos.
A pesquisa teve considerável repercussão sendo objeto de
debates e matérias nas Revistas Time, The Economist, Correio de la Sierra, La
Liberacion, El Clarin entre outros veículos de comunicação internacionais L,
nacionais L
e locais L.
A pesquisa cumpre pelo menos em parte a meta de permitir que pessoas em
localidades brasileiras reflitam sobre a religiosidade no seu entorno. Vídeo
curto L
assim como o eco gerado em termos de rádio L,
internet L,
televisão L
permitem angariar retorno de percepções da sociedade para a próxima fase da
pesquisa.