Fé no santo casamenteiro
O que há com os baianos? Por que Jussiape, no oeste
da Chapada Diamantina, é a campeã brasileira de solidão?
A população acha que é por causa da migração. Os homens
partem sozinhos em busca de emprego nos grandes centros
e deixam as mulheres sozinhas na cidade.
Haveria também um traço cultural dos moradores que
resistem a formalizar as uniões no cartório ou na
igreja. O fato é que esse comportamento singular dos
homens e mulheres de Jussiape não consegue evitar o
desejo universal de encontrar uma alma gêmea.
Santo Antônio, coitado, deve estar com estafa. É
enorme a sobrecarga de pedidos que recaem sobre o santo
casamenteiro. Já é tradição em Jussiape as moças se
reunirem para pedir que a solidão acabe ou que a alma
gêmea caia do céu, nem que seja por milagre.
As orações são sempre feitas em frente à mesma casa,
numa cerimônia cada vez mais concorrida confirmando o
prestígio do santo. “Já vimos mulheres que participaram
das orações terem experiências com namorados”, conta a
estudante Daiane Carvalho e Silva.
Sábado em Jussiape é um bom dia para tentar acabar
com a solidão. É dia de feira. Os agricultores chegam do
interior do município para tentar vender seus produtos.
“Tem bastante mulher solteira acima dos 30 anos
aqui”, confirma um morador. Mas, infelizmente, ir à
feira não resolve o problema. O pessoal parece sempre
mais interessado em vender produtos: farinha, requeijão,
manteiga, ovos, carne. “Tenho a solução definitiva para
mulher solitária: homem”, brinca o feirante José Leite.
Há de haver alguém na cidade com quem se possa
dividir a vida. Essa é a busca obsessiva da comerciante
Gardênia Prates. E ela está determinada a prosseguir
nessa procura.
“Levanto todo dia e penso: ‘Será que um companheiro
vai me aparecer hoje?’. Tenho muitos momentos de
solidão. É impossível ser feliz sozinho, não existe
felicidade faltando um pedaço”, diz Gardênia.
Gardênia vive em Jussiape com a filha e a mãe. Nunca
está só, embora se sinta assim. “A solidão dói na alma,
no fundo. Você procura tapar o vazio, mas não consegue”,
descreve Gardênia. “Acho que o destino está reservando
alguma coisa boa para mim”,
conforma-se.