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Sábado, 12 de agosto de 2000

Trabalho infantil cresce na Grande São Paulo
O mesmo ocorre em Porto Alegre e Belo Horizonte, mas índice cai nas demais metrópoles
Milton Michida/AE
O garoto Adam, no lixão de Carapicuíba, procura metais para vender e ajudar no sustento da família
CARLOS FRANCO

Os olhos azuis com tonalidade ligeiramente cinza do garoto de 13 anos brilham ao se depararem com metais nada preciosos que se ocultam em meio a toneladas de lixo. É uma cena insólita. Como milhares de outros garotos brasileiros, Adam Luiz Lopes está fora da ordem natural dos meninos de sua idade. Em vez de estar num banco de escola, freqüenta todos os dias um dos muitos lixões da Grande São Paulo. Sua família depende disso para garantir o prato de que ele mais gosta: "Macarrão com muito extrato de tomate." Adam tem de encontrar alguns quilos de metal desprezado pelos habitantes da cidade para que se transformem no R$ 1,60 suficiente para o macarrão e o extrato, de segunda, que fazem seus olhos brilharem.

Adam não está sozinho na jornada que começa às 6 horas, quando os primeiros caminhões chegam ao lixão de Carapicuíba. Dando duro todos os dias, das 6 às 17 horas, Adam mais uma vez está fora da ordem natural dos meninos da sua idade quando o assunto são estatísticas de trabalho infantil. De 1982 e 1999, o porcentual de crianças de 10 a 15 anos trabalhando nas grandes regiões metropolitanas do País apresentou queda significativa, de 13,24% para 4,5%.

Adam também não chega a escrever o nome, mas sabe, de cor, o valor do quilo de metal: "O alumínio vale R$ 1,20, mas é difícil porque tem de catar 80 latas para dar 1 quilo, o ferro que é mais fácil de achar vale R$ 0,40, mas se acha cobre aí é que é bom: vale R$ 1,80." É assim Adam explica o por quê de os meninos do Brasil e até adultos disputarem tanto essas latas nas ruas do País.

As estatísticas constam de estudo recém-concluído pelo economista Marcelo Cortes Neri, do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Alguns resultados são surpreendentes, como o que constata que o porcentual de trabalhadores nessa faixa etária em São Paulo é de 11,5%, ante 6,2% em Salvador e 6,22% no Rio.

"As políticas de estímulo à educação nas Regiões Norte e Nordeste tiveram efeito positivo, enquanto o trabalho infantil se manteve e até cresceu nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte, onde a situação de ensino sempre foi melhor", diz Neri.

Para o economista, esse processo é resultado de vários fatores, entre os quais a renda e a escolaridade dos pais, bem como a expansão das oportunidades de trabalho para crianças de 10 a 15 anos numa grande metrópole como São Paulo. "Quando há retomada da atividade econômica, aumenta a informalidade, na qual a criança passa a ser vista como mão-de-obra complementar, da mesma forma que também é chamada ao trabalho quando a renda do emprego formal da família está em queda", diz Neri.

Informalidade - O resultado de São Paulo não indica, porém, que cidades como o Rio e Salvador não empreguem esse tipo de mão-de-obra, mas Neri assinala que nessas duas regiões metropolitanas a informalidade da economia tradicionalmente foi maior do que em São Paulo. "A informalidade cresce quando aumentam as dificuldades da família e não chega a ter impacto estatístico quando já está incorporada à economia", explica.

Ou seja, o porcentual de crianças trabalhando no Rio e em Salvador diminui por força da escola e do trabalho de organizações não-governamentais, enquanto em São Paulo elas começaram a se espalhar por outras atividades informais. Algumas delas são recentes, por exemplo, as de cobradores de transportes alternativos, como peruas e vans, e outras antigas, como o garimpo dos lixões.






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